Caminho a passos largos para o Natal de 2018 com uma noção de amor um bocadinho mais aprofundada. Em Setembro propus-me, com as minhas amigas-irmãs da Igreja da Lapa, a estudar as três cartas de João. Apercebi-me que conhecia melhor o Evangelho do que as cartas, e que o segundo maior mandamento de todos (amar o outro como a mim mesma) ainda é um processo bastante lento em mim.
Cresci com um equívoco que me trouxe anos de sarilhos: “Deus é amor mas também é justo”. Como se estes conceitos vivessem em oposição. Embora eu soubesse, em teoria, que o carácter de Deus é perfeito e que nenhum atributo entra em conflito com outro, habituei-me a viver com a enorme dificuldade de ser julgada, confrontada – era como se não me sentisse amada nesses momentos. Não percebia eu que quando Deus – ou alguém – me corrigia, o amor não se suspendia, pelo contrário: demonstrava-se de outra forma.
Tinha, também, alguma dificuldade em situar – entre o amor e a justiça – a graça e misericórdia de Deus no meu relacionamento com os outros. Percebi isso ainda melhor quando comecei a ter filhos: não sabia como aplicar a justiça. Era como se ser justa fosse incompatível com ser graciosa, ou como se ser graciosa significasse ser negligente. Aprendi que a justiça deve existir sempre, não fechando os olhos ao pecado, mas abordando-o. A graça entra na forma de aplicar a justiça. Sempre que estas coisas ficam mais complicadas, recorro aos exemplos da Bíblia. Lembro das ocasiões no deserto em que Deus abordou o pecado e perdoou sem mais consequências, e as outras em que Deus puniu severamente.
Nesta caminhada do Natal, preciso lembrar do enorme sacrifício que foi feito no meu lugar e a grande dádiva que isso trouxe. Não só para mim, mas para todos os que acreditam. Quando me sinto perdoada e amada com tão grande amor, tenho um dever: escolher amar sem excepção.